SALVADOR MEJÍA ALEJANDRE, discípulo fiel de Valentin Pimstein, despontou no começo da carreira como seu provável sucessor. Sua linha popular de novelas era sucesso absoluto, e logo virou um dos mais importantes produtores do gênero. Os excessos e as parcerias erradas o fizeram entrar numa nova etapa, marcada pelo insucesso consecutivo de inúmeras novelas.
1997 – ESMERALDA: A adaptação da trama original de Delia Fiallo bem que gerou críticas por parte da autora original, que criticou escalações, etc. Mas o argumento estava praticamente intacto e foi um grande sucesso no horário das 20h. Um sucesso onde praticamente tudo deu certo, e o tom pimsteiniano era visível (como no figurino eternamente verde da protagonista). Letícia Calderón fez muito sucesso, mas assim como na trama original, quem também chamou atenção foi o par romântico formado por Nora Salinas e Alejandro Ruiz.
1998 – LA USURPADORA: Original de Inés Rodena e adaptada com perfeição por Carlos Romero, a história das gêmeas Paola e Paulina apresentou todos os elementos para se converter num clássico, e maior sucesso absoluto da carreira de Mejía. A escolha da protagonista Gabriela Spanic foi uma aposta ousada do adaptador, que rendeu críticas e elogios da imprensa e do elenco da Televisa, mas não interessa: a novela é um verdadeiro deleite. Recorde de audiência, vendas, etc. Difícil dizer o que mais marcou nessa antológica novela.
1999 – ROSALINDA: Cercada de muita expectativa, essa novela é um caso raro. Sucesso de vendas e com boa aceitação internacional, no México foi tratada o tempo inteiro como um fracasso. Que se esperava um retorno de Thalia em algo diferente, que a novela repetia os clichês... Mas era um remake de uma novela de Delia Fiallo. A novela foi encurtada, viu seu adaptador renunciar a história rumo a reta final, sendo substituído por Liliana Abud. Ficou claro que foi uma novela com bastidores tumultuados, mas não foi nenhum fracasso.
2000 – ABRÁZAME MUY FUERTE: Salvador Mejía fez as pazes com a audiência nesse inesperado sucesso, que começou no horário das 20h, e foi transferida para as 21h diante de seu indiscutível sucesso. Um elenco grandioso e uma requintada produção só não fizeram dessa uma de suas melhores novelas, porque começava aqui uma série de excessos, iniciada com a morte de René Muñoz e a sua substituição por Liliana Abud a frente do texto, que pegou pesado na violência (inclusive com a morte de uma criança) e em sequencias insólitas (como a do exorcismo). Ainda assim, um dos grandes sucessos da década, com destaques para César Évora, Victoria Ruffo, Aracely Arámbula e Fernando Colunga.
2002 – ENTRE EL AMOR Y EL ODIO: A intenção era repetir o êxito da novela anterior, mas o argumento era muito água com açúcar para o horário das 21h. A solução foi incrementar a novela com acontecimentos truculentos: trocas de bebês, muita violência, assassinatos (outra criança morta), doenças escabrosas, mas que sim surtiram efeito. A novela virou um sucesso e fez brilhar o par de vilões vividos por Alberto Estrella e Sabine Moussier. Também destaque para Maria Sorté.
2003 – MARIANA DE LA NOCHE: Uma novela com uma trajetória similar a anterior. Era o remake de uma novela que não havia sido um sucesso, mas que na adaptação de Liliana Abud, fez as pazes com o sucesso. Foi bem, sem ser um fenômeno. O maior erro foi a escalação de Alejandra Barros para a protagonista, que se viu ofuscada pelos vilões vividos por Angélica Rivera – que ganhava o primeiro crédito, inclusive – e César Évora (que voltava a viver o vilão da história). Com um elenco enxuto e trama bem amarrada, o saldo foi positivo.
2005: LA MADRASTRA – Outro grande sucesso de Mejía. A trama tinha ares de mistério, mas o mote central era a luta de uma mãe para recuperar o amor dos filhos. Um prato cheio para os noveleiros. Apesar da adaptação irregular e uma certa barriga na novela, a novela foi um grande êxito de audiência, sendo uma novela de enorme repercussão o tempo inteiro. Destaque para Victoria Ruffo a frente de um elenco composto praticamente só por astros da televisão. O sucesso foi tanto que a novela foi reprisada dois anos depois, com um final inédito.
2005: LA ESPOSA VIRGEN – Diante do problema de Carla Estrada estrear a atração seguinte, Mejía emendou uma novela na outra e apresentou um argumento bem velho de radionovela trazendo Adela Noriega no curioso papel de “virgem”. A novela não foi muito bem, apesar da audiência não ter sido um desastre. O maior destaque é que o antagonista da novela, vivido por Sergio Sendel, chamou mais a atenção que o protagonista defendido por Jorge Salinas: Conclusão: casou com a mocinha no final da novela, enquanto o outro morreu.
2006: MUNDO DE FIERAS -Provavelmente o primeiro grande grande e real tombo do produtor. O elenco era multiestelar e a novela prometia muito, mas tinha dois grandes problemas: a sinopse fundia três histórias completamente diferentes em estilo e forma (uma venezuelana, outra mexicana, outra argentina), virando um verdadeiro samba do crioulo doido. Além disso (ou, em parte, por isso), a protagonista era completamente anulada pelo enredo, que valorizava mais as maldades de Edith González como a vilã (de fato, a melhor coisa da novela).
2008: FUEGO EN LA SANGRE – Poucas novelas viraram um fenômeno de audiência tão imediatamente como essa. Três irmãos que querem se vingar de três irmãs. A história era tão simples e forte, que ficou impossível não fazer sucesso, mesmo com as críticas pelas escalações de atores mais velhos que os intérpretes da novela original. Claro que o sucesso subiu a cabeça, e Mejía levou a novela a mais de 200 capítulos, enchendo a trama de participações especiais e motivos para esticá-la até o cansaço. Eduardo Yánez, Guillermo García Cantu e Diana Bracho brilharam em meio a outro elenco repleto de nomes de peso.
2009: CORAZÓN SALVAJE – Fiasco! Voltou a repetir o mesmo erro de “Mundo de Fieras”, unir duas histórias sem pontos em comum pelo afã de produzir uma nova versão de “Corazón Salvaje”. Talvez por querer dar uma resposta a trilogia de época de Carla Estrada. Começou então um show de horrores: atores errados, em papéis repetidos, visual carnavalesco, gêmeas, mães que tinham a idade dos filhos, e uma adaptação que só começou a se recompor quando escolheu uma das histórias como um norte a seguir. Embora a audiência não tenha sido tão medíocre, acabou talvez como a maior vergonha alheia da carreira do produtor!
2010: TRIUNFO DEL AMOR – A nova versão de “El Privilegio de Amar” já começou dividindo opiniões. Uma das ideias para atrair público foi repetir o par romântico formado por Maite Perroni e William Levy, mesmo que a protagonista se chamasse Maria Desamparada. O elenco reunia grandes nomes, e ao mesmo tempo, um povo colocado lá sem motivo, como o jogador de futebol Cuauthemóc Blanco e a semi-atriz Dorismar em papéis de destaque. Conclusão: o jogador teve sua importância diminuída, e ela, que era fundamental no enredo, foi assassinada. Victoria Ruffo promoveu uma forte campanha para que sua personagem ficasse com um novo personagem vivido por César Evora. Com isso, Osvaldo Rios também perdeu importância na novela. Apesar dos pesares, a novela foi bem fora do México.
2012: QUÉ BONITO AMOR – Salvador Mejía havia vetado um remake de “La Hija del Mariachi” pretendido por Nicandro Díaz, por alegar que a história (que tratava de imigração de um mexicano para a Colômbia) era impossível ser ambientada no México. Mas, para ele, sim foi possível adaptar a história para as 19h! Assim surgia “Que Bonito Amor”, uma espécie de homenagem a música e a cultura mexicana, mas dentro do próprio México! A novela até começou com bons índices, mas acabou não sustentando por muito tempo, vendo sua audiência escapar na segunda metade da trama.
2013: LA TEMPESTAD – A previsão era que Salvador Mejía deixasse “Que Bonito Amor” para lançar “La Tempestad” no horário nobre, mas ele emendou as duas! Havia uma certa expectativa, pois a novela era vendida como um híbrido entre original e remake, de um outro autor, mas no fim, a novela foi novamente um fracasso! O visual errado do protagonista, a escalação da inexperiente Ximena Navarrete como protagonista (ainda por cima, vivendo desnecessariamente duas personagens na novela), e sobretudo, o argumento muito simples da novela prejudicaram seriamente o andamento da novela.
2015: LO IMPERDONABLE – Assim como “Triunfo del Amor”, Salvador Mejía errava novamente ao trazer uma história muito viva precocemente (havia um remake de 2010). Desta vez, a parceria com Liliana Abud foi desfeita na véspera, provocando uma substituição por Ximena Suárez, que imprimiu um ritmo lento à adaptação, o que prejudicou - e muito - a novela, ainda mais por ser uma história já mais que conhecida! Tudo o que deveria ter sido acelerado, demorou meses para acontecer em prometidas mudanças radicais que, na prática, nunca se concretizaram.
2016: LAS AMAZONAS – Outro “déja vu”! Dessa vez de “Niña Amada Mía”, mas no horário das 19h! A novela teve uma estética bonita, e queria se apresentar como “série”, sem nada que justificasse isso, a não ser que os capítulos tinham nomes de episódios. A adaptação morna deixou a história presa num eterno conflito do passado, envolvendo Victoria Ruffo, colocada na novela com peso de protagonista, sem que de fato, o fosse. Outra novela cansativa, chata, sem razão de ser feita, ainda que tivesse um bom elenco.
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*Começamos hoje no SBTicias está série especial intitulada "Produtores" que conta a história dos produtores de novelas da Televisa. Agradecimento ao grupo "Febre Mexicana" do Facebook pela matéria.