domingo, 25 de agosto de 2013

"Maria do Bairro" foi exibida em quase 200 países


Há coisas que resistem ao tempo, por mais adversidades que enfrentem. Coisas como bolo de chocolate, futebol, pipas, água de côco e… novelas mexicanas. É difícil explicar o sucesso destas últimas, mas é impossível não reconhecê-lo.
Produzida em 1994, “Marimar” está sendo exibida pela quinta vez no SBT e vem marcando 5/6 pontos de audiência. A título de comparação, uma edição inédita do “Programa da Tarde”, da Record, costuma marcar 4.
Thalia, porém, já possui uma nova aliada. Protagonizada por Maite Perroni, “Cuidado Com o Anjo” não é um sucesso, mas um fenômeno que costuma marcar o dobro da Record e vencer a Globo por diversos minutos.
“Ah, mas Thalia é Thalia e ‘Cuidado’ é inédita. Não há fenômeno aí!”, podem dizer alguns. Eu até poderia concordar, não fosse por “Rubi”. Ela não é inédita e não possui uma protagonista mundialmente consagrada, mas mantém índices semelhantes aos de “A Usurpadora”, vencendo a Record e incomodando a Globo.
Está provado: o fenômeno existe. E, ao invés de se dedicar aos “porquês”, pode ser mais fácil eliminar os “por isso”:
1) Novelas mexicanas não são um fenômeno devido à Qualidade
Assista “Marimar” e procure por direção apurada, produção caprichada ou edição impecável. Você não encontrará nada disso. Aliás, nos créditos de abertura da novela aparecem apenas50 nomes. Só para constar: estamos no país de “Amor à Vida”, que possui mais de 100 atores.
Tramas da Televisa não são super produções tecnicamente perfeitas, tampouco possuem lindos figurinos ou cenários. Decididamente, o fenômeno não é fruto da satisfação de um público exigente.
Pelo contrário; este público está entre os mais facilmente ‘conquistáveis’ da TV.
2) Novelas mexicanas não são um fenômeno devido à Inovação
Nos folhetins mexicanos, você não encontrará uma mulher se disfarçando de empregada doméstica para vingar-se da antiga madrasta ou uma quadrilha traficando pessoas na Turquia.
As tramas optam pelos clichês e, surpreendentemente, não se tornam enfadonhas, mas prazerosas. O “mais do mesmo” mexicano é mais eficaz do que muitas invencionices nacionais.
A equação dos furacões latinos é simples e certeira: mocinha cativante + galã musculoso + vilã arrebatadora = sucesso. Novelas mexicanas se ancoram em seu enredo, não em seu elenco. Se apoiam no que é concreto, não no duvidoso.
3) Novelas mexicanas não são um fenômeno devido ao seu Elenco
O Brasil e mais de 150 países as assistem dubladas, ou seja, a qualidade dramatúrgica do elenco pouco influencia a audiência, já que um ótimo ator pode ser estragado por um péssimo dublador.
E, ao menos por aqui, o mercado de dubladores parece ser escasso. Constantemente a voz do galã da novela x é a mesma voz do vilão da novela y e vice-versa.
Pois bem: folhetins mexicanos não são perfeitos, inovadores ou revolucionários. Então são o quê? Novamente, só tenho palpites. E, curiosamente, os possíveis “porquês” são o contraste dos prováveis “por isso”:
1) Novelas mexicanas são Simples
Ao contrário do que pensam alguns diretores, a grande maioria do público não se preocupa – e nem nota – com enquadramentos de câmeras, detalhes de cenografia ou gravações no exterior.
Novelas mexicanas fornecem o primordial: emoção e entretenimento. E, por optarem pelo ‘básico’, erram menos do que as que se propõem ao ‘lendário’.
Isso nos leva ao próximo “porquê”.
2) Novelas mexicanas são divertidas
É como um self service: elabore 10 qualidades de carne e se esqueça do arroz, e seu restaurante será um fracasso.
O folhetim tradicional, com dilemas apresentados no primeiro capítulo, enfrentados nos seguintes e solucionados no final, é uma das maiores invenções da história da TV. Repare que novelas que se propõem a fugir do lugar-comum – “Tempos Modernos” e “Máscaras”, só para citar algumas. – tendem a fracassar.
O ‘mexicofenômeno‘ prova que o público de novelas só deseja uma coisa: uma trama coesa que apresente alguém para amar e alguém para odiar.
3) Novelas mexicanas são cativantes
Aqui adentramos no campo das coisas que se sentem, saindo do das que se explicam. As novelas da Televisa fazem com que o público – e, principalmente, a dona de casa – se identifique na telinha.
Ao olhar para as Marias de Thalia nos recordamos de nós mesmos, antes de nossas frustrações ou desilusões. Vislumbrando Paola Bracho, identificamos problemas ou defeitos implacáveis que nos perseguem.
Como foi dito lá em cima, novelas mexicanas despertam amor e ódio e, consequentemente, nos “prendem”. Seu público é fiel, ardoroso, quase viciado. A audiência constante a força dos astros latinos nas redes sociais estão aí para provar.
A simplicidade das produções e do enredo atendem a uma demanda intangível: a necessidade de sentir calor humano saindo de detrás da tela de vidro.
***
Por que as novelas mexicanas são um fenômeno? Você se arrisca a tentar descobrir? Eu também não. De uma coisa, porém, eu sei: é melhor eu gravar bem as características de Paulina Martins, Soraya Montenegro, Rubi e sua trupe.
Pelo andar da carruagem, meus netos me obrigarão a participar de um quiz sobre elas daqui a uns 50 anos…

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