domingo, 15 de setembro de 2013

Especial: SBT zomba da Globo por copiar “câmera nervosa” do Aqui Agora em novela (27/04/1994)


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Nesta semana o SBT surpreendeu a todos ao anunciar que o jornalístico Aqui Agora estará de volta à programação a partir do próximo dia 23 de setembro. Essa será a 3ª versão do programa, que estreou em 1991 e permaneceu no ar até 1997. Em 2008, nova investida, mas que durou pouco mais de um mês. Agora, cabe a Neila Medeiros a missão de dar vida a um dos jornalísticos mais importantes da história da TV brasileira e também um dos mais copiados. Você vai começar o porquê de tudo isso a partir de agora no Cartas e Cartazes!

O Aqui Agora estreou no SBT em 20 de maio de 1991, dia de lançamento de importantes produtos na grade do SBT, dentre eles as novelas Carrossel e Rosa Selvagem e o Jornal do SBT. Aproveitando o nome de um extinto programa da TV Tupi (Aqui e Agora) e inspirado no noticiário argentino "Nuevediario", rapidamente o programa do SBT caiu no gosto popular, sendo responsável por puxar todo o horário nobre da emissora.

O Aqui Agora tinha uma irresponsabilidade gostosa, onde a norte era ser criativo nas pautas, indo do futebol a uma perseguição policial em minutos. E assim foram aparecendo figuras que ficariam marcadas para todo o sempre na TV brasileira, como o Feliz (que debutou antes no SBT, mas ficou famoso no Aqui Agora), o Gil Gomes (quem não imitava ele na infância?), o Homem do Sapato Branco, Celso Russomano, Luiz Ceará, Simone Queiroz, Wagner Montes, Magdalena Bonfiglioli, Sérgio Frias, Gérson de Souza, João Leite Neto. Um timaço. Timaço que não tinha limite de audiência, chegando a passar dos 30 pontos.

 Marco Wilson, diretor de jornalismo do SBT ao lado do realtime do IBOPE na época e falando sobre o Aqui Agora: "Criamos uma nova linguagem" (Foto: Juca Rodrigues / Revista Veja)

Por mais que a mídia tentasse denegrir a imagem do programa, falando somente das pautas policiais e sensacionalistas e realçando os comentaristas como bizarros, como Dr. Enéas Carneiro e Maguila, o Aqui Agora sempre se mostrou firme da desconfiança e trazendo sempre um material criativo e popular.

Os slogans “a arma do povo” e “a vida como ela é” eram seguidas à risca, ao ponto do SBT virar quase uma ouvidoria popular para atender as reclamações populares. O povo não procurava mais a polícia, queriam era que a equipe do Aqui Agora fosse a determinado acontecimento para cobrar providências. Isso valia para desde um simples furto, passando pela relação de consumidor e chegando até mesmo em casos mais graves, como sequestro. Em abril de 1993, por exemplo, Sérgio Frias ficou ao vivo, durante mais de uma hora, sob a mira de um revólver, servindo de moeda de troca para liberar um bebê. Era uma irresponsabilidade arriscada, mas que o público tinha verdadeira paixão.

Esses eram os responsáveis pelos GC's criativos do Aqui Agora de onde brotava clássicos como "Bicharada em festa! Aumenta o número de veados em São Paulo", "Pixote japonês taca a cara no muro!",  "Sérvios Pisam na Bósnia" e "Furação na Flórida... e Miami Vai-se!" (Foto: Arquivo pessoal de Mário Santos/AA)

O sucesso tão grande, tanto de audiência como comercial (sim, o público A/B prestigiava sempre o noticiário dito do “povão”), fizeram com que o SBT até criasse uma 2ª edição em junho de 1993. Era Aqui Agora antes e depois do TJ Brasil. A ideia não rendeu tanto, assim como a tentativa anterior de fazer o TJ Brasil ficar no horário do Jornal Nacional. Historicamente, colar produtos do mesmo gênero do SBT com relação à Globo nunca deu muitos motivos para comemoração.

 Valia tudo para fazer uma reportagem no Aqui Agora, inclusive acompanhar treinamento policial (Foto: Arquivo pessoal de Célia Serafim)

O fato do Aqui Agora ser um sucesso incomodava. Incomodava, sobretudo, a Rede Globo, que via pela segunda vez o SBT lançando moda no jornalismo e não ela, detentora de todo um aparato jornalístico de primeiro mundo. Primeiro, Boris Casoy rompeu com o noticiário TP 100% da Rede Globo e passou a noticiar e comentar os fatos. Depois, veio o Aqui Agora que rompeu com o padrão normal de telejornal e passou a inovar cada vez mais nas reportagens, com linguagem popular, ênfase no repórter, pautas muito fora do “padrão global” e sem necessariamente um cuidado de edição e filmagem muito “certinho”.

 Selos presentes nos equipamentos de filmagem do Aqui Agora (Foto: Arquivo pessoal de Douglas Aguado)

Nesse último ponto de diferencial é que surgiu a famosa expressão “câmera nervosa”. Nela, os repórteres do Aqui Agora poderiam mostrar sem cortes as matérias, levando o telespectador a se sentir presente no acontecimento, dando vivacidade à matéria, que, mesmo gravada não perdia o interesse do público.


Douglas Aguado, ex-cinegrafista do Aqui Agora, em conversa com o SBTpedia, disse que certa vez foi gravar um casamento e a noiva pediu para que utilizassem de imagens em movimento, tal qual era a câmera nervosa do jornalístico. Contudo, a noiva nem imaginava que tinha contratado um profissional já acostumado com esse tipo de “de cobertura”. Ele o fez e, claro, a noiva adorou.

A câmera nervosa virou um símbolo ao ponto até de virar tema de propaganda. Aguado cita que na época uma rede de fast-food fez um comercial onde um câmera ia apanhar um lanche no balcão, com direito a narração estilo Aqui Agora. “Fiquei bravo, porque deveriam ter me contratado e não ter imitado o que eu fazia!”, brinca Aguado.

Primeiro capítulo na íntegra de A Viagem; mídia comparou com o Aqui Agora do SBT

O estilo Aqui Agora de ser aos poucos foi contagiando a Globo e várias outras emissoras em seu jornalismo. Até o Globo Ciência ficou mais popular na época. Mas o que poucos esperavam, veio em destaque em alto e bom som no Jornal “O Estado de São Paulo”, em 13/04/1994: “A Viagem inicia em ritmo de Aqui Agora”. Isso mesmo! A novela de Ivani Ribeiro, no seu primeiro capítulo, adotou uma postura próxima à câmera nervosa do Aqui Agora, num ritmo mais frenético e agilidade contagiante. E o público aprovou a novela padrão SBT da Globo: marcou 55 pontos, superando o último capítulo da antecessora, Olho por Olho, que havia dado 50.

Mas é claro que o SBT não poderia perder essa deixa para fazer uma anúncio provocativo à Rede Globo. Em letras garrafais destacou “Ué, não é geralmente o vice que vai atrás do líder?”, destacando abaixo trecho da matéria do Estadão que mostra essa correspondência da estreia de “A Viagem” com o jornalístico do SBT. O texto abaixo é ainda mais interessante. Fala que o Brasil é um país de contrates (invertendo a manchete: “líder é que vai atrás do vice”) e ainda pediu para a Globo não reparar na voz linda do Gil Gomes, pois o SBT tinha medo de perder o galã. Sensacional!

Nós, do SBTpedia, desejamos sucesso ao Marcelo Parada, Neila Medeiros e toda a equipe do Aqui Agora e que todos possam se imbuir desse espírito que só este programa tinha: falar a língua do povo e saber mostrar exatamente da forma que o povo mais curtia. Vida longa ao programa.

Fonte: SBTPedia

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