quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Opinião: Aqui Agora - O programa certo na ocasião errada


O SBT surpreendeu a todos na noite de ontem, dia 11 de setembro, quando anunciou na programação a volta do Aqui Agora, no próximo dia 23, sob o comando de Neila Medeiros, recentemente “promovida” para rede, após passagem de sucesso na regional em Brasília. 

Para acomodar a nova atração, o SBT irá retirar Carrossel no meio de sua exibição, sob a justificativa que os resultados da reprise da novela não estavam agradando a Direção Artística da emissora. 

Pois bem. Percebe-se, logo de cara, o improviso que virou a programação. A reprise de Carrossel foi cancelada antes de ir ao ar, depois lançaram Clube do Carrossel, resolveram apostar em Carrossel novamente e agora ela sai do ar. Esse é o risco de se lançar uma novela longa sem um planejamento adequado. Eu, particularmente, fui contra a reprise. Mas, se ela foi ao ar, deveria permanecer até o fim. Foi assim que o próprio Silvio Santos se comprometeu, em 2008, de que nunca mais tiraria uma novela do ar no meio do caminho. Ficou no discurso, infelizmente. 

Mas vamos aos fatos: o SBT vai lançar o Aqui Agora no próximo dia 23 de setembro. Faltam, portanto, 11 dias para isso. É inimaginável que o SBT consiga fazer milagre em tão exíguo prazo. É bem verdade que com o passar do tempo tudo pode ser melhorado. Mas a pergunta é: será dado esse devido tempo? Será investido dinheiro nesse produto feito às pressas? 

As recentes investidas de jornalismo nesse horário não deram certo, como não custa lembrar do Aqui Agora, em sua versão 2008 e o Boletim de Ocorrências, com Joyce Ribeiro e depois com César Filho. O problema não é o jornalístico em si, é a concorrência já consolidada. Ninguém vai largar de ver o Datena e o Rezende, que há anos monopolizam esse tipo de atração na TV, para assistir algo novo. Teria que ser “o programa mais TOP” da história do SBT para se firmar na briga e, no mínimo, ter um tempo razoável para consolidar seu público. 

Aliás, vale o destaque, o Aqui Agora não é um jornalístico policial. Ou não deveria ser. Quem conhece a história do programa sabe que, em sua melhor fase, ele sempre foi muito além. Tinha exatamente de tudo, numa mistura tão criativa e interessante de jornalismo popular, que interessava todos os tipos de público. Infelizmente, o programa acabou muito marcado pelas pautas policiais (e por ter determinado a criação de outros vários jornalísticos dessa área, como o próprio Cidade Alerta, da Record) e assim o público, por comodismo e hábito, deve preferir assistir o que já assiste. 

Outro fator preponderante é a questão do comando dessas atrações. O Aqui Agora, na década de 90, tinha a força de seus repórteres, como grande arma na briga pela audiência. Todo mundo queria ver o Russomano brigando pelos consumidores, a Magdalena aos prantos, o Wagner Montes em enrascadas policiais, o Gil Gomes com sua narrativa sombria e o Homem do Sapato Branco em pautas sobrenaturais e inusitadas. Ou seja, os apresentadores do Aqui Agora se restringiam a chamar os comentaristas e repórteres e eles davam um show. Hoje em dia, as figuras dos apresentadores é que mandam. Uma pessoa assiste o Datena porque quer ver ele se indignar com tal crime. Uma pessoa assiste o Rezende porque quer vê-lo zoando com o Percival. É essa figura que entrevista ao vivo o delegado, seja por telefone ou link ao vivo e é aquela que opina sobre tudo que passa no noticiário. Em suma, enquanto o Aqui Agora apostava em “cada um no seu quadrado” dentro do programa, hoje o público assiste uma figura de show-man, que acumula todas as funções para si. 

Sou fã confesso do Aqui Agora. Esse era um programa que não era pra voltar, era um programa para nunca ter saído da grade do SBT. Sempre achei um jornalismo muito a frente do seu tempo na década de 90 e acho que ninguém pratica esse tipo de jornalismo hoje na TV brasileira. Nem Datena nem Rezende. Porém, é muito difícil (diria quase impossível) chegar no ponto certo para se reeditar esse jornalismo popular nos dias de hoje. Não só encontrar o âncora certo, como encontrar uma equipe de repórteres tão bons como os de antigamente. O certo é que para tentar dar o troco na concorrência, tão pesada, logo teriam de ficar reféns das pautas policiais para tentar um crescimento em vão. 

Por isso, acho que a volta do Aqui Agora seria uma boa sim e até já defendi bastante isso, mas não jogando a atração contra produtos que o público já está acostumado em assistir. De manhã ou no início das tardes o Aqui Agora seria muito bem vindo e reforçaria a grade jornalística, e, por serem horários de menor pressão por IBOPE, poderiam desenvolver um formato popular até achar o ponto certo, de forma mais tranquila. 

No meio desse fogo cruzado, está Neila Medeiros. Aquela que considero talvez uma das melhores jornalistas que apareceram nas regionais do SBT nos últimos anos. É bonita, carismática e tem opinião forte. Chamada pelo SBT no comunicado como “única jornalista capaz de apresentar sozinha o Aqui Agora” e de “enfrentar o Datena e o Marcelo Rezende”, é a grande aposta de Silvio Santos para reeditar o Aqui Agora. Mas para ser sucesso não basta Neila, não basta Datena, não basta Rezende. É preciso investir, acreditar, estabilizar e insistir com o produto. Senão teremos eternamente uma grade provisória na faixa das 18 horas. E o Aqui Agora e sua história não merecem isso.

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