segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Opinião: Onde encaixar uma revista eletrônica no SBT?


Pipoca na imprensa a intenção do SBT lançar em breve uma revista eletrônica diária, no período da manhã, podendo inclusive substituir a programação infantil, atualmente existente a partir das 9 horas com o Bom Dia e Cia. Contudo, essa provável estreia demanda atenção e cuidado do SBT, o qual passaremos a discorrer a seguir. 

Confesso que revista eletrônica é algo que sempre cobrei do SBT. Além de ser tradicionalmente um produto que vende bem, é algo que dá margem para se explorar muitas coisas, desde receber convidados no estúdio, fazer coberturas jornalísticas e até mesmo fazer quadros diversificados, inclusive divulgando a grade de programação, fazendo às vezes de “Video Show” da emissora. 

Contudo, a ideia da revista eletrônica diária, também pelo que vem sendo dito na imprensa, pode decretar o fim da programação infantil diária, rumo já tomado por outra emissoras, como a Globo. Por mais que se tenha mudado a amostra do IBOPE ou mesmo por mais que o “veto” do governo à merchandising infantil tenha diminuído o faturamento, a programação destinada às crianças é uma verdadeira marca da emissora e não pode ser abandonada. Durante anos, diretores do SBT enchiam a boca para dizer: “o público passa a gostar do SBT, porque ele se identifica com a programação do SBT desde pequeno”. E eu sou prova cabal dessa teoria. Hoje, com a ajuda de Carrossel e Chiquititas e a iminente estreia da série “Patrulha Salvadora” e do desenho de Carrossel, essa programação infantil, deve ser aprimorada e não retirada, talvez dando a ela um formato mais moderno e uma identidade necessária para que a audiência cresça mais. 

Naturalmente, até por uma questão de estatística da população brasileira, sabemos que aos poucos as crianças estão diminuindo e a tendência é que cada vez mais sobressaiam adultos em detrimento ao público infantil. Se na década de 60 era comum nascer 8 filhos, hoje 2 já é muito. Outros casais, no seu direito, optam, inclusive, por nem ter filhos. Essa tendência vem sendo observada década após década e acentuada nas últimas, especialmente. Por isso, não se pode hoje repetir aquela grade da década de 80 onde era recheada de desenhos, Bozo e programação infantil de cima em baixo, quase. Mas o mínimo de programação infantil é importante, pela criação da identidade já dita, para fazer contraprogramação ao que já existe nas outras emissoras e por tentar conter o avanço da TV fechada, hoje grande vilão da TV aberta na concorrência por essa parcela de público. 

Voltando à revista eletrônica, na minha concepção, eu preferiria que ela viesse semanal, nos moldes do Fantástico (Globo) e Domingo Espetacular (Record). Seria algo mais impactante, com reportagens mais bem trabalhadas, como o brasileiro gosta de um resumo semanal. Por diversas vezes na história, o SBT ensaiou fazer um programa nessa linha. Podemos citar dois: no início da década de 90, Leonor Corrêa iria lançar o “Aqui Brasil” e em 2005 o SBT contratou Carlos Amorim (mesmo que lançou o Domingo Espetacular) para implantar uma revista semanal no SBT. Os projetos, porém, nunca foram adiantes. A grande questão é: onde encaixar uma revista dessas, que por ser semanal, teria que vir no horário nobre? Complicado. O espaço que havia aos sábados, felizmente, o SBT vem encaixando uma sequência de programas nacionais (Festival Sertanejo e agora o Famoso Quem?). Então é melhor nem arriscar. Aos domingos, é inviável por competir com dois produtos semelhantes já consolidados. Não é tarefa das mais fáceis, embora fosse o mais adequado, a meu ver. 

Sendo diária, a revista eletrônica tem mais espaço para se encaixar na grade. Como eu disse acima, não a colocaria no lugar do Bom Dia e Cia. Na minha visão, o melhor seria vir das 7 às 9 horas. É uma boa duração e não enfrenta programas como o Hoje em Dia, na Record e o Encontro com Fátima Bernardes, na Globo. César Filho está bem no comando do SBT Manhã, mas a enxurrada de notícias das 4 às 9 horas da manhã deve cansar muita gente (inclusive com o mesmo nome de telejornal), além da concorrência já ter um público “feito” há anos com jornalismo no horário. O ideal seria transformar o SBT Manhã das 7 às 9 horas em uma revista eletrônica (com outro nome, claro, para se diferenciar do jornal do Hermano e Joyce) e juntar César Filho e Neila Medeiros no comando da atração. Caso quisessem recorrer a gente de fora, tem a Nadja Haddad no mercado e que também é carismática e competente. Mas não é necessário, a meu ver: César tem uma pegada histórica com revista eletrônica e Neila é uma grata revelação do jornalismo do SBT e que tem tudo para vingar em rede nacional. Todo o giro pelas afiliadas poderia ser usado dentro dessa revista como é hoje dentro do SBT Manhã. 

Outra coisa que vale ser destacada e seria o ideal, é que essa revista fosse subordinada ao departamento de jornalismo do SBT. Tanto o Falando Francamente quanto o Olha Você, duas experiências mais recentes nesse tipo de programa diário, eram programas tratados como de variedades. Acho que seria necessário isso até para que se tivesse a certeza, inclusive do mercado, que o tal programa iria priorizar a informação. Até para evitar o risco de aparecer joguinhos bobos, como no princípio do Olha Você, que quando acordou e virou um bom programa pra valer, já estava no fim da linha. Aliás, o Olha Você, mesmo diante de todas as dificuldades, mudanças de apresentadores e entrando num horário onde a cobrança é muito maior (final das tardes) chegou a ter um investimento grande, incluindo uma equipe de repórteres próprios de mais de 10 profissionais. Seria excelente se isso se repetisse nesse projeto para as manhãs. 

Também merece menção a questão da transição público adulto/público infantil. Atualmente, o Bom Dia e Cia sofre com isso, com o SBT Manhã e certamente sofreria também com a revista eletrônica. A audiência entregue, que já não é das melhores, cai ainda mais com o programa diferenciado em seguida e prejudica a média da atração infantil que demora a subir. Se a revista rendesse mais audiência parte desse problema poderia ser corrigido, afinal mais audiência mais chance de mais gente permanecer no canal, mesmo com a atração diferenciada a seguir. Mas não corrige 100% o problema. A tendência natural é que o público do SBT e da revista migre justamente para concorrentes diretos na Globo e na Record, o que atrapalharia mais o “Bom Dia”. É uma questão que deve ser analisada a fundo, mas sem mudanças bruscas ou “enxertos” desnecessários entre a revista e a atração pra criançada. 

Por fim, vale concluir, que a revista eletrônica seria um ganho importante para a qualidade da programação do SBT. Contudo, acredito, mexer na programação infantil não é o melhor caminho para se lançá-la. Seria melhorar no tocante ao público adulto e abandonar as crianças. Com jeito dá para encaixar todo mundo e aos poucos trabalhar para que ambos possam conviver na grade, sem sobressaltos na quebra de público. Como todo produto novo e que envolve disputar audiência com a concorrência já consolidada no horário, é necessário tempo para que o público se acostume e possa se formar uma fidelidade por parte dos telespectadores. Somente a estabilidade poderá permitir que essa revista gere audiência, lucro e possa atrair a credibilidade necessária para que outros investimentos na área jornalística sejam feitos nos próximos anos.

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