Tenho relutado um pouco para escrever sobre esse assunto, aguardando uma posição oficial do SBT sobre o futuro da parceria com a Warner. Como não veio até agora, resolvi escrever sobre essa parceria e tantas outras que se desenvolveram ao longo da história do SBT.
Pois bem. Não é novidade para ninguém que o SBT pretende dar novo rumo à parceria com a Warner. Pelo que é falado na imprensa, duas alternativas foram colocadas em jogo: o fim da parceria ou o fim da parceria exclusiva, podendo o SBT ter preferência na compra de filmes ou séries. Produtos não comprados pela emissora seriam, de imediato, oferecidos a outras emissoras.
É uma questão complicada. O SBT tem em sua história uma rica identificação com filmes e séries. Se pegarmos de 1997 para cá, o SBT já teve parcerias com Disney, Warner, Paramount e MGM. Isso para não falar de compras avulsas da Universal e Columbia, além da Fox, que em 2002, fez até parceria para exibir filmes do Star Wars no sábado à noite e ajudar na divulgação da estreia do novo filme da série nos cinemas.
Um possível fim do contrato com a Warner, representaria, pela primeira vez, desde 1996, o SBT sem contrato fixo com nenhuma distribuidora internacional. Com o complicador de que em 1996, a Globo não detinha para si tanta exclusividade sobre os filmes no mercado como hoje e muito menos a Record tinha o poderio financeiro para bancar contratos (com Universal e MGM, atualmente).
É recorrente a alegação de que é uma absurdo pagar milhões para um Harry Potter da vida dar 6 pontos. Realmente é um resultado insatisfatório. Mas é preciso olhar isso numa visão mais panorâmica do que pelo dado numérico em si. Se pegarmos o histórico de Harry Potter, podemos perceber que o início de sua exibição na TV representou um boom, até pelo frescor de ser uma novidade e pelo apelo mais infantil dos primeiros filmes. Com o tempo, esse frescor passou, os filmes foram ficando mais inteligentes, densos e o público mais adulto, e com ajuda da pirataria, Internet e da queda do share de TV, a série de filmes caiu de rendimento. Porém, com criatividade, é possível minimizar um pouco esses resultados. Juntar os Harry Potter’s em uma “Semana Mágica”, fórmula já testada em 2009 e que deu muito certo, é um exemplo.
Criatividade. Esse é um dos principais pontos. Valorizar a chamada, o filme em si. Esse é outro ponto. Valorizar a sessão de filmes também é outro ponto. É possível dar exemplos variados ao longo da história do SBT. Quem não se lembra da “Tela de Sucessos Especial do Mês”? Era o melhor filme do mês na sessão, geralmente inédito, que pela divulgação que o SBT fazia, sempre trazia resultado. E o especial jornalístico com “A Lista de Schindler”, apresentado por Hermano Henning antes da exibição do mesmo pelo SBT? Filme extremamente complexo para TV aberta, mas que o SBT ia lá e passava para o público que era algo interessante. Até mesmo em 2007, ano dos mais complicados na história do SBT, a emissora fez um plano comercial, cumprido à risca para o 8 e Meia no Cinema. De abril a dezembro daquele ano, só inéditos. Foi algo exagerado, no sentido de programar um filme em março para dezembro, mas que gerou ótimos anunciantes para a sessão e manteve a mesma em um patamar superior a 10 pontos, muito satisfatório para aquele ano (com vários filmes chegando a 14, 15, 16 e até 18 de média). Fora a chamada, que todos ficavam ansiosos para saber onde a equipe de criação visual do SBT iria incluir o logo da emissora na cena do filme.
Ainda pegando um pouco da história das sessões de cinema do SBT, é possível ver que havia até mesmo a preocupação com o Cine Belas Artes, que nunca contou tanto para a média-dia, mas que era valorizada. Denzel Washington e Clint Eastwood, por exemplo, ganhavam filmes só deles durante o mês inteiro na sessão. Ou seja, o público se acumulava. Eu via um filme do ator na primeira semana de março e ficava interessado em acompanhar o resto do mês. Uma verdadeira “venda casada dos filmes”, totalmente legal e eficaz.
Mas vamos voltar à alegação numérica. O SBT não pode esperar hoje 20 pontos para um filme. Até a Globo soa atualmente para dar isso. Os números mudaram e a tendência é cair ainda mais, com o avanço da TV fechada. O que se deve padronizar o pensamento são dois fatores: patamar de vice-liderança, faturamento e agregar qualidade na grade. Os filmes, hoje, no SBT, sempre estão na vice ou próximos dela. Os filmes tem um dos maiores preços de tabela no Departamento Comercial do SBT e geralmente agregam anunciantes ditos “fortes”. E, claro, filmes da Warner, uma das maiores produtoras do mundo, dão um toque de qualidade à programação. Se filmes fossem tão ruins assim, por que a Globo, líder de audiência, estaria concentrando para si quase todas as parcerias com distribuidoras, algo próximo do que acontecia já na década de 80?
Aí chega-se ao argumento das “distribuidoras independentes”. “Elas podem suprir a falta da Warner”, dizem. Pode até ser que o SBT consiga suprir numericamente os filmes para suas 3 sessões de cinema atualmente existentes (Cine Espetacular, Tela de Sucessos e Cine Belas Artes), mas não é algo certo em qualidade e faturamento. Qualidade porque uma distribuidora independente, como o próprio nome diz, pode vender os melhores para você ou para a concorrência. Ou seja, não garante nada. Você pode ficar com um filmaço ou uma bomba. E faturamento porque o mercado publicitário não é bobo. Ao ver o SBT perder nos últimos anos tantos parceiros na área de filmes, pode se afastar. O Banco do Brasil preferirá anunciar no “Batman - O Cavaleiro das Trevas” ou no filme lado B, de Hong Kong, lançado apenas em DVD no Brasil?
Por isso tudo e por mais uma série de fatores, é necessário que o SBT analise bem essas mudanças pelas quais estão passando. Além dos filmes, existem os desenhos (que abastecem as manhãs de segunda a sábado) e as séries (todas as madrugadas). Ninguém, em sã consciência, quer que o SBT meta o pé pelas mãos e gaste mais do que possa. É visível a dificuldade financeira pela qual as emissoras passam em 2013. Nem queremos filmes só inéditos na grade, coisa quem nem a Globo e seu arsenal o faz. Mas é importante reconhecer que os filmes e séries têm seu público e não é nada recomendável abrir mão dele. O SBT ainda está longe de uma independência total dos enlatados. Basta assistir a programação à tarde para perceber isso. E se usam o argumento que as novelas mexicanas são uma tradição do SBT e devem ser mantidas, os filmes, séries e desenhos animados entraram no ar no primeiro dia de existência da emissora. O SBT vai acabar sem a Warner? Não. Mas o fim de uma parceria de quase 15 anos certamente será sentida. E pode respingar na qualidade da programação, que sofreu vários baques ao longo desse ano.
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