Confira:
Como você percebeu que era o momento de deixar a Band e alçar novos voos?
“Acredito que o convite do SBT tenha vindo na hora certa. Estávamos passando por um momento delicado na Band. A emissora tinha reduzido pela metade a equipe de produção, dos bastidores. Além disso, estava diminuindo salários e queriam tirar um dia do Agora É Tarde. No meio desse turbilhão de acontecimentos, veio a proposta do SBT. Ao mesmo tempo, deixaria de me privar do meu “casting”, teria um programa que vai ao ar cinco dias por semana, ganharia mais e estaria no berço do “talk show” no Brasil. De primeira, já fiquei empolgado. Mas avisei que precisaria conversar com toda minha equipe.”
Poder levar a equipe que fica atrás e na frente das câmaras era um pré-requisito?
“Com certeza! O Agora É Tarde emplacou porque não era um programa biônico. Era um programa orgânico, com pessoas que se conhecem, que são amigas. A gente tinha autenticidade. Não foi um elenco formado. Meu foco principal ao mudar de emissora era manter o clima do bastidor, porque acho que isso é fundamental para o bom andamento do programa. Se a gente se diverte fazendo, quem assistir vai se divertir também. Também não conseguiria fazer um produto tão bom sem o Léo Lins, o Murilo Couto, a Juliana e a brilhante presença do Ultraje a Rigor. Mas, além dos velhos, vamos trazer algumas novidades, como o locutor Diguinho Coruja.”
A Band é a grande responsável pelo destaque da sua carreira, principalmente por ter dado um programa solo para você apresentar. Como ficou a sua relação com a direção da emissora?
“Sou muito grato à Band e a tudo que construí lá dentro. Mais do que agradecer com palavras, trabalhei duro lá. Apanhei pela Band, fui preso pela Band. Infelizmente, as coisas não saíram como o planejado. A emissora diz que vai me processar. Talvez porque o The Noite siga a mesma linha do Agora É Tarde. O que eu acho um absurdo. Até porque não existe mais aquele programa. A equipe inteira saiu. Além disso, eu criei o conceito, o projeto, consolidei o programa na grade com bons índices de audiência e eles ainda vão continuar usando tudo, até o nome. Em qualquer lugar normal do mundo, em vez de me processar, eles deveriam me pagar “royalties” (risos).”
No contrato com o SBT, você tentou se precaver com alguma cláusula que impeça as mudanças súbitas de horário, hábito comum na emissora?
“Não há blindagem para isso. Quem manda é o Silvio (risos).”
Mas você não tem receio de trocar de emissora na busca de crescimento e visibilidade e acabar fora do ar?
“A maior blindagem que posso ter é acreditar que o SBT é muito familiarizado com esse tipo de programa. A emissora e sua diretoria entendem que esse formato deve ser transmitido de segunda a sexta, à noite. Foi o canal que construiu, consolidou e exportou o “talk show” na grade brasileira. Mas, se não der audiência e cortarem o programa, o problema está comigo. E aí eu não posso fazer nada. Outra coisa que me faz não ficar com medo é que a proposta foi tentadora e eles fizeram de tudo para que eu assinasse. Me sinto prestigiado.”
Por quê?
“A emissora assumiu minhas multas contratuais porque eu ainda tinha vínculo com a Band. Além disso, deram um “upgrade” no meu salário. Posso garantir que não é nada exorbitante, mas é pago em barras de ouro, que valem mais do que dinheiro (risos).”
Assim que você foi para o SBT, foi divulgado que o nome do programa seria “Jô Soares Onze e Meia com Danilo Gentili”. Essa opção realmente foi cogitada?
“Minha ideia era que, pelo menos na primeira semana, o nome fosse esse mesmo. Era, ao mesmo tempo, uma piada e uma homenagem. E depois, com o programa já no ar, eu faria uma votação na internet sobre o nome do programa. Mas a direção não curtiu, achou uma ideia muito maluca (risos). Aí, quebramos um pouco a cabeça para chegar até o The Noite. Queria um nome pequeno, simples e talvez com algo em inglês, para relembrar a raiz do “late show”. Ficou assim.”
E quanto à liberdade artística e de expressão? Você acredita que vai encontrar espaço para continuar fazendo o mesmo tipo de piadas?
“A liberdade que estou tendo aqui é incomparável. O SBT faz piadas com marcas, o dono da emissora fica sem calças no programa dele. Acredito que aqui não tem tanta ligação política. Chegamos aqui para fazer o que quisermos, ninguém impôs limites. E, além dessa liberdade de expressão, tem um outro grande atrativo. O SBT é a única emissora brasileira a permitir que seus conteúdos sejam disponibilizados no Youtube. Essa mistura de internet e TV já é velha conhecida minha e me agrada muito. E quanto às minhas piadas e às besteiras que falo, não ligo. Já tive muito problema em falar o que eu penso, mas, ainda assim, cheguei até aqui (risos).”
Você se diz um grande admirador dos “talk shows”. Quais são suas maiores inspirações?
“Com certeza, a maior referência é o Jô Soares. Quando eu era pequeno, não existia internet. Então, para mim, ele tinha inventado esse formato. E gosto muito da velha guarda, como o David Letterman. Acho que ele é muito melhor que o Jimmy Fallon, que é um cara mais novo e também está aí usando esse formato. Aliás, acho que a velha guarda é a melhor coisa que existe.”
Como assim?
“Acho que, pela primeira vez na história da humanidade, os jovens estão mais chatos do que os velhos. O Faustão reclama dos bastidores da Globo no “Domingão do Faustão”. O Silvio Santos também fala o que pensa nos programas dele. Os jovens estão muito “coxinhas”. A velha guarda é ousada, os novos são carolas demais, têm medo de ofender alguém. Existe uma cartilha do que pode ou não ser feito. Medo de processo. Onde já se viu humorista com medo de processo…”
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