O jornalista José Nêumanne Pinto enviou a amigos uma carta em que acusa Marcelo Parada, diretor de jornalismo do SBT, de ter “notórias ligações societárias com o presidente nacional do PT, Rui Falcão”.
“Nunca tive nenhuma relação societária com Rui Falcão. Nunca. Não sei de onde o Nêumanne tirou essa história. Desafio qualquer um a provar qualquer relação societária minha com Rui Falcão. Nunca fui sócio e nunca prestei serviços para Rui Falcão“, negou Parada ao jornalista Daniel Castro.
O jornalista afirma que seus comentários de política “nem sempre” eram levados ao ar no SBT. Cita: “[Ricardo Melo] vetou um comentário meu crítico contra Dilma Rousseff porque ouviu a palavra ‘merda’ quando eu havia dito ‘meta’”. Procurado, Melo não quis falar sobre o assunto.
Vale lembrar que ele foi demitido pela emissora no último dia 7. Leia a carta de Nêumanne, na íntegra:
“Na sexta-feira passada, dia 7 de fevereiro, após gravar os comentários para os três jornais do SBT, fui comunicado pelo diretor de jornalismo, Marcelo Parada, que o “comitê de programação do SBT” havia decidido extinguir comentários na emissora.
Nunca, em momento nenhum, desde que assumiu o lugar, Parada, que conheci no começo da carreira dele na Jovem Pan, onde até hoje sou comentarista, e seu lugar tenente, Ricardo Melo, me abordaram a respeito de qualquer aspecto de forma, conteúdo, tom ou estilo que dissesse respeito a minha participação nos três telejornais da casa.
Parada mantinha (e não tem por que deixar de manter) uma relação cordial comigo, mas sempre superficial e esporádica, de vez que nossos horários não combinavam. Dificilmente o encontrava em seu gabinete de segunda a sexta entre as 4 e 6 da tarde no horário de minhas gravações.
Ricardo Melo, cujo comportamento brusco é lamentado entre outros colegas, ao contrário, sempre estava em sua mesa e costumávamos trocar farpas bem-humoradas sobre nossas diferenças ideológicas. Melo é assumidamente trostkista e na juventude também tive simpatia pelo fundador da IV Internacional. E, mesmo tido pelos companheiros dele como membro do Partido da Imprensa Golpista (PIG), dei-lhe de presente de Natal o romance policial O homem que Amava os Cachorros, do cubano Leonardo Padura, sobre um dos meus temas prediletos, quase obsessivos, o assassinato de Lev Trotski.
Melo nunca demonstrou atenção especial pelo Jornal do SBT, que era ancorado por Carlos Nascimento, nem pelo Jornal do SBT Manhã, comandado por Hermano Henning. Concentrava-se no SBT Brasil, apresentado por Rachel Sheherazade e Joseval Peixoto.
Quando a dupla assumiu, o tempo de meu comentário foi reduzido de 40 para 30 segundos, mas Silvio Santos resolveu dar mais dez minutos ao jornal do horário nobre para garantir a edição dos três comentaristas da Pan que ele havia contratado: Carlos Chagas e Denise Campos de Toledo, além de mim. Passei a fazer comentários de um minuto de duração, que nem sempre eram levados ao ar, apesar de gravados diariamente.
Melo sempre assumiu a responsabilidade pelas decisões de supressão (não seria o caso de usar a palavra censura). Uma vez, por exemplo, ele vetou um comentário meu crítico contra Dilma Rousseff porque ouviu a palavra “merda” quando eu havia dito “meta”.
Depois da crise provocada pelo jornal policial tirado da grade por falta de audiência, nunca mais os comentários que eu gravava para o SBT Brasil foram ao ar, apesar de religiosamente gravados, inclusive na sexta 7, quando fui sumariamente demitido sem nenhum aviso prévio nem tentativa de evitar que meu trabalho prejudicasse a dinâmica do noticiário, como vi alegado nas notas publicadas pela imprensa.
Da sala de Parada fui direto ao RH, onde fui comunicado que receberia os sete dias trabalhados no mês de fevereiro. Não questionarei essa deselegância na Justiça, pois meus acertos foram feitos de boca com Silvio Santos, que está de férias na Flórida. Apenas registro em nome da verdade dos fatos.
Li também nas redes sociais que meus comentários não estavam sendo mais aproveitados no carro-chefe da programação jornalística da casa. De fato. Cheguei a consultar Melo sobre isso. E ele me respondeu: “É um acordo que tenho com Silvio Santos. Ele lhe paga, você grava e ele me paga para decidir se seu comentário vai ao ar”. Agradeci a sinceridade, porque dessa forma ele me liberou da obrigação diária de ver o jornal. “Mas a única coisa que lhe interessa no jornal é seu comentário?”, ele perguntou, com sarcasmo. Respondi sinceramente: “Certamente. Nada mais no jornal me interessa”.
Não discordo radicalmente de Melo e Parada em relação ao excesso de comentaristas no SBT Brasil. Cheguei a comentar isso com Silvio Santos quando este me pediu para gravar comentários para este telejornal à época em que meu compromisso se limitava aos outros dois. Mas o patrão discordou veementemente e passei a gravar, como ele havia me pedido, até porque àquela época o tal “comitê de programação do STB” era composto por apenas quatro pessoas: Senor, Abravanel, Silvio e seu Santos. Pelo visto, algo deve ter mudado.
De qualquer maneira, o papel de locomotiva jornalística não cabe bem ao SBT Brasil, a não ser se se considerar apenas o horário da exibição. Pois seus índices de audiência não são propriamente espetaculares. E nunca em nenhum dia os Jornal do SBT e Jornal do SBT manhã deixou de levar ao ar um comentário meu.
Espero que a informação tenha sido mal interpretada por quem a deu. Não acredito que a cúpula do jornalismo do SBT fosse deselegante como foi comigo com colegas como Carlos Nascimento e Hermano Henning. Melo não faz mais parte dela porque seu estilo franco e desabusado o levou a se exceder numa discussão com um funcionário do RH e isso provocou sua demissão na segunda-feira, 3 de fevereiro. Duvido que ele tenha exacerbado tal estilo fazendo alguma referência desairosa a dois produtos que também estavam sob sua chefia. O mesmo vale para Marcelo Parada. Não acredito que ele tenha explicitado tal discriminação contra colegas de profissão cujos currículos não merecem dele tal desrespeito. Também não acredito que suas notórias ligações societárias com Rui Falcão possam ter interferido na decisão de demitir quem ele sempre chamou de “amigo”. Seria uma imprudência. Fica, de qualquer maneira, a consequência a lamentar mais institucional do que pessoal: o ano eleitoral começa com a demissão de um crítico contumaz de Dilma Rousseff, favoritíssima à reeleição, mas ainda assim temerosa de que ela não ocorra.”
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