sábado, 18 de julho de 2015

A Usurpadora: As gêmeas que marcaram a teledramaturgia


Produzida em 1998 , exibida em aproximadamente 125 países e dublada para mais de 25 idiomas, o enredo que narra a vida da família Bracho e a rivalidade das irmãs gêmeas Paulina Martins e Paola Bracho, superou todas as expectativas da toda poderosa “TELEVISA”. Fazendo de A USURPADORA, um dos maiores clássicos da TV Mundial.

O ano era 1997, Salvador Mejía Alexandre, graças ao absoluto sucesso de sua primeira novela “ESMERALDA” no horário das 20 horas, fez com que o produtor fosse promovido ao aclamado horário nobre da TV mexicana, o da 21 horas (conhecido no Brasil como o das novelas das 8) que na época assim como vem acontecendo atualmente no Brasil, sofria com péssimos índices de audiência. Em meio a ascensão de sua precoce carreira, Salvador se via em um complexo dilema: Qual história ele deveria levar ao ar, em um horário que há anos estava em decadência?


A primeira ideia que o produtor teve foi convidar o escritor que seria o responsável por roteirizar a trama, o renomado dramaturgo: Carlos Romero, dono dos sucessos mundiais : Maria Mercedes, Marimar e Maria do Bairro. E que já havia trabalhado com Salvador em “Esmeralda”.

Depois, qual a novela a ser produzida? Em meio as sugestões de Carlos Romero, um fã de carteirinha das obras da falecida novelista cubana INÉS RODENA, Mejía escolhe uma história do passado, escrita nos primórdios dos anos 1950 em Cuba, levada ao ar em forma de radionovela, que contava a história de duas irmãs gêmeas separadas ao nascer e que se reencontravam já adultas, para viverem uma história de antagonismo, representada pelo bem e o mal, na figura de duas mulheres idênticas. Também apresentada duas vezes já como telenovela na Venezuela em 1972 e 1987, e numa única ocasião no próprio México no ano de 1981, sob o título de “El hogar que yo robé” .


E a terceira e mais cruel das dúvidas: quem daria vida as gêmeas? Primeiramente a TELEVISA e Salvador convidaram Thalía, na época a maior estrela da TV MEXICANA e dona das telenovelas mais exportadas da emissora. A cantora devido a uma turnê internacional não pôde aceitar a proposta tentadora de Mejia. Permanecendo a dúvida: quem daria vida as irmãs? Carlos Romero que havia passado uma boa temporada na Venezuela escrevendo novelas, sugeriu o nome de uma desconhecida, uma atriz venezuelana em ascensão GABRIELA SPANIC.

A princípio a TELEVISA detestou a ideia, pelo simples fato de ver uma estrangeira desconhecida protagonizando uma telenovela no horário nobre da emissora, ainda mais encarnando a heroína e a vilã do melodrama. Salvador também não se agradou da ideia, mas CARLOS ROMERO (o maior escritor da casa) foi irredutível: se não for GABRIELA SPANIC não haverá novela!


Graças a pressão de ROMERO, imediatamente a desconhecida SPANIC foi convidada para ir ao MÉXICO a fazer os testes na TELEVISA, e logo de primeira o produtor Salvador ficou fascinado com a belíssima apresentação de Gabriela. E viu nela, assim como Carlos Romero, uma estrela a mais para o show business do mundo das telenovelas.

Aprovada, recém casada, Gabriela chega ao México com seu esposo, o também ator Miguel de León em novembro de 1997. Em poucas semanas, Spanic teve que perder o sotaque venezuelano que levava desde que nascera, foi obrigada a se adaptar a uma nova realidade, a novos costumes, a uma nova cultura, enfim, a uma nova vida.


Muitas atrizes se revoltaram ao ver uma desconhecida, protagonizando uma novela no horário nobre, ainda mais fazendo dois papeis. Gabriela sentiu na pele o preconceito que os estrangeiros sofrem ao irem trabalhar em uma outra nação, ainda mais sendo o MÉXICO (a Hollywood das telenovelas). 

Mas nada disso abateu a atriz, em poucas semanas, A USURPADORA tornou-se um sucesso retumbante, elevando os índices da TELEVISA consideravelmente. Esse êxito também deve-se pelo fato da presença de inúmeras estrelas no elenco, como o galã Fernando Colunga (conhecido internacionalmente pelo seu papel de Luís Fernando em MARÍA LA DEL BARRIO, junto a THALÍA), LIBERTAD LAMARQUE (a Fernanda Montenegro do México) e Chantal Andere (uma das maiores atrizes do país), além de diversos nomes consagrados do grande público mexicano como Tito Guizar, Meche Barba, Silvia Derbez, René Muñoz, Iran Eory entre outros.


A TELEVISA não sentia na pele desde MARIA DO BAIRRO, o doce gosto do sucesso. Imediatamente, A USURPADORA tornou-se um fenômeno de vendas. Antes mesmo do final da trama no México, a novela já havia sido vendida para mais de 50 países e em poucos meses tornar-se-ia uma das mais exportadas da emissora. Graças a todo esse êxito, GABRIELA SPANIC virou uma das maiores estrelas da casa, viajou dezenas de países para divulgar a novela, teve o seu contrato renovado por três anos, foi convidada para fazer parte do especial MÁS ALLÁ DE LA USURPADORA (Além da usurpadora) que narrava a vida da família Bracho um ano após final do casamento de Paulina e Carlos Daniel, a protagonizar a novela POR TEU AMOR ao lado do galã argentino Saul Lisazo e a dar vida as gêmeas Virginia e Vanessa na novela “La Intrusa” de 2001, projeto semelhante ao de “A usurpadora”, que diferentemente da história de Paola e Paulina , contava a trajetória de duas irmãs gêmeas que se amavam e se respeitavam. 


A propósito, a ideia de Carlos Romero era produzir uma trilogia das gêmeas com Gabriela, assim como as Maria de Thalía, porém a ideia não vingou, devido aos baixos índices de audiência de LA INTRUSA no México.

O que poucos sabem é que curiosamente ” A Usurpadora” foi a responsável por parar uma guerra civil na Croácia. Quando a trama ia ao ar, o povo parava de guerrear para ver a história da família Bracho.

Mas voltando a novela, todo esse fenômeno se deve ao típico clichê, de duas irmãs gêmeas que se odeiam (já apresentado no Brasil na também clássica MULHERES DE AREIA de Ivani Ribeiro), a um roteiro excelente, a uma ótima direção e a magistral interpretação de Gabriela Spanic, como Paulina e Paola, a gêmea boa e má respectivamente.

A inesquecível vilã Paola Bracho, foi o maior destaque da novela. Uma mulher sexy que abusa da sensualidade para conquistar o que tanto almeja: “Dinheiro pra se divertir” ou “1 milhão de dólares”. Bordões como “Eu vou cortar a sua língua e arrancar os seus olhos” e “Elvira… traidora maldita” caíram na boca do povo imediatamente, especialmente aqui no Brasil . Paola está na seleta galeria de vilãs mais marcantes da TV. Seu vestido vermelho, seu batom cor de sangue, sua gargalhada escandalosa e a sugestiva cadeira de rodas, são as eternas marcas da vilã.


Em pesquisa realizada pelo portal internacional Terra Networks, LA USURPADORA foi considerada uma das “50 melhores telenovelas de todos os tempos”, em meio a títulos mexicanos como “María la Del Barrio” e “Marimar”, além de produções brasileiras como “Roque Santeiro” e “A Próxima vítima”.

Todo esse sucesso, é inexplicável para especialistas em teledramaturgia. Em meio a críticas aos enredos mexicanos, A USURPADORA foi um estouro de audiência no Brasil. Há exatos 16 anos a novela estreava em terras tupiniquins, praticamente dobrando os índices de audiência do SBT em pleno horário nobre. Até mesmo o diretor global JAYME MONJARDIM, chegou a declarar na época para imprensa carioca que ” A USURPADORA” era um fenômeno de audiência. 

Todo esse êxito fez com que Gabriela Spanic viesse ao Brasil e fosse recebida com status de estrela internacional, ao lado do então marido MIGUEL DE LÉON (que vivia o Douglas Maldonado na novela). A intérprete de Paola e Paulina ficou impressionada com o sucesso da trama: ´´Oi“ e ´´Beijo”, “Tchau“ foram as primeiras palavras que ela aprendeu aqui, adorou o pão francês brasileiro e no seu primeiro café-da-manhã comeu 5, além disso participou de inúmeros programas do SBT, ao lado de estrelas como a saudosa HEBE CAMARGO, GUGU, RATINHO, MARÍLIA GABRIELA e SILVIO SANTOS. A atriz chegou a gravar um comercial para o “Baú da Felicidade” e fez chamadas para a estreia da novela O Privilégio de Amar.


Há 16 anos a Rede Globo se viu atemorizada com a novela. Desde Maria do Bairro em 1997 , o Jornal Nacional não perdia para o SBT. O último capítulo de “A Usurpadora”, no dia 09/11/1999, alcançou 27 pontos de média com pico de 31 no Ibope, uma das mais altas audiências atingidas com a exibição do final de uma novela mexicana no Brasil (perdendo apenas para o final de Maria do Bairro que chegou a marcar 33 pontos). Durante os quase 5 meses que ficou no ar, a novela marcava facilmente médias que oscilavam entre 19 e 25 pontos, chegando a dar picos de 30; em um horário que dificilmente chegava a marcar 10. Todo esse êxito fez com que o Jornal Nacional perdesse 10 pontos de sua audiência. Antes de A usurpadora, o telejornal marcava 45 pontos, depois chegava a marcar médias diárias de 35, dificilmente chegando aos 40. Além de afetar a maior atração jornalística do PLIM PLIM, a história das gêmeas Paulina e Paola Bracho também deu dor de cabeça para a novela das 8 “SUAVE VENENO”. A Usurpadora entregava o horário em alta para ” O PROGRAMA DO RATINHO” que chegava a passar a novela de Aguinaldo Silva na emissora concorrente.

Todo o êxito aqui no Brasil, fez com que a novela fosse reprisada 5 vezes, em 4 ocasiões pelo SBT (2000, 2005, 2007, 2013 e agora em 2015) e em 2012 pelo canal a cabo TLN pertencente a TELEVISA, totalizando 7 exibições, incluindo a original de 1999. A Usurpadora, assim como Maria do Bairro, teve mais sucesso no nosso país do que no próprio México.


As reprises da novela não foram diferentes, em 2000 deixava o SBT na vice-liderança isolada às 17 horas, em 2005 chegou a bater as novelas do VALE A PENA VER DE NOVO da Rede Globo, que na época exibiam DEUS NOS ACUDA e LAÇOS DE FAMÍLIA, em 2007 tornou-se uma das maiores audiências da emissora de Silvio Santos que na época vivia uma terrível crise de audiência, em 2013, chegava a liderar o horário das 16 horas, desbancando a SESSÃO DA TARDE da REDE GLOBO, e agora a trama de Gabriela Spanic alavancou as médias do horário das 6 da tarde de uma forma significativa, chegando a ficar na maioria das vezes em segundo lugar no ibope, marcando 9 pontos, num horário que antes dificilmente marcava 6, liderado pelos programas sensacionalistas da Rede Record e Bandeirantes, e o fenômeno “O Rei do Gado” no Vale a Pena Ver de Novo da Globo.

E é por isso que A USURPADORA está entre as novelas de maiores êxitos não somente no México, mas em todo mundo, sobretudo aqui no Brasil… Quem nunca ouviu: “La usurpadora… esperando por tu amor”? 

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