domingo, 15 de dezembro de 2013

OPINIÃO: Estádio SBT - Juntar esporte e humor impõe desafios importantes

Alexandre Porpetone e sua paródia do técnico Muricy Ramalho, hoje no São Paulo

O fim de 2013 surpreende no quesito esportivo para o SBT. Apesar de não ter direito a competições e nem mesmo mostrado interesse na aquisição da Série B do Brasileirão e da Copa do Brasil, colocadas no mercado pela Globo, o SBT pode ter, ao longo de 2014, três produtos esportivos no ar: o reality Menino de Ouro (segunda temporada), uma mesa redonda durante a Copa do Mundo e um programa esportivo misturado com humor com nome provisório de “Estádio SBT”.

Acho a iniciativa de se buscar o esporte extremamente válida. É um nicho abandonado pelo SBT e que é extremamente importante no tocante ao público masculino e, especialmente, jovem. Como o Menino de Ouro já é notoriamente conhecido de todos e a mesa redonda da Copa ainda carece de confirmação do SBT na sua produção, vamos ao que mais repercutiu nas últimas semana: o chamado Estádio SBT.

Segundo divulgado na imprensa, o SBT pretende fazer uma espécie de “Pânico do Esporte”, com matérias bem-humoradas, curiosidades, brincadeiras e musicais, tudo relacionado ao esporte. Dentre os participantes, ainda a ser oficializado pelo SBT, estariam Lívia Andrade, Edmilson (ex-jogador e da equipe do Menino de Ouro), o jornalista Thomaz Rafael e os humoristas de A Praça é Nossa Alexandre Porpetone e Maurício Manfrini. O programa foi aprovado pela direção do SBT e pode estrear em março, com exibição semanal aos sábados.

A ideia da atração é também levar um pouco do que Porpetone e Thomaz Rafael fazem na Rádio Transamérica, no programa Galera Gol e o nome da atração (Estádio 97) tem inspiração também no rádio, na FM Energia 97, que trata o futebol com deboche. A ideia de levar o rádio para a TV vem trazendo bons frutos. O Pânico surgiu assim e, atualmente, o Morning Show, apesar da baixa audiência, é um dos destaques da programação da RedeTV!.

A ideia de trazer uma “nova via” aos programas esportivos também é bem vinda, no sentido do SBT não ter (infelizmente) direitos sobre grandes campeonatos no Brasil e no mundo. Isso já alivia a atração de frustrar o público. É preciso vender, incessantemente, que a atração não é para analisar que o juiz errou naquele lance ou ver os melhores momentos da partida. A ideia é divertir, entreter, trazer algo novo na pegada esportiva na TV brasileira. Isso não quer dizer que precise abandonar o factual, e sim é preciso mostrar o que há de interessante naquele acontecimento “por trás das câmeras”. Voltando ao Pânico (nos seus bons tempos): a festa em si não é mostrada na sua essência, Ceará e Vesgo mostram os bastidores ou elegem um personagem-chave para fazer da matéria normal em algo realmente com bom humor. Da mesma forma, não precisa se mostrar a decisão do Campeonato Paulista. É possível tirar graça da torcida, dos jogadores, de tudo que envolve uma partida. Basta ter criatividade.

Ainda usando um exemplo de programa esportivo de qualidade, podemos citar o próprio SBT, com seu último programa em rede nacional, o Jogo Duro, de Jorge Kajuru. Ele adotava um padrão de esportivo diferente das demais emissoras abertas. Além de ter plateia para interagir e convidados, adotava uma postura crítica diante dos acontecimentos e sua ironia diante dos fatos era extremamente bem humorada (não intencional, mas eficaz). Quem não se lembra da indignação de Kajuru após a eliminação do Brasil na Copa de 2006? O programa registrou picos de 17 pontos, algo extramente impressionante pelo horário que o programa entrava aos domingos e pelo fato do SBT não ter nenhum produto esportivo na época (como hoje), no ar, para sustentar a atração.

Ao longo do texto venho falando da expressão “programa esportivo” sucessivamente, mas isso ainda é algo longe de se conquistar na TV aberta brasileira. E isso torna a função desse programa optar entre a audiência ou a qualidade. Vou explicar mais a fundo isso a seguir.

Um programa esportivo na TV aberta brasileira fala de quê? Essencialmente de futebol. Basicamente de futebol. Quase totalmente de futebol. Tirando exceções de programas esportivos como o Esporte Espetacular, que dedica algumas matérias a outros esportes, mas o que atrai a atenção do público é o futebol. O ideal é que pelo menos alguns dos esportes mais populares do Brasil também tivessem um bom espaço. Mas é difícil. E no ano de Copa do Mundo a tendência é que 100% dele vire futebol. No caso do programa do SBT, o nome da atração já tem a expressão “estádio”, na equipe já tem ex-jogador e ex-musa de escola de samba do Corinthians. Ou seja, a tendência para ficar só no futebol é muito grande. Isso preocupa na qualidade. Será que não é possível fazer humor com boas pautas no vôlei, basquete? Mas talvez seja um fato impositivo para a audiência.

Outro fator, da mesma forma, influi na audiência e qualidade: O bairrismo dos programas esportivos. Quem aguenta os programas nacionais falar de Corinthians, São Paulo, Palmeiras, Santos. Aí começa de novo: Corinthians, São Paulo, Palmeiras e Santos. Aí vai. E segue. E continua. E fica nisso. No Rio acontece da mesma maneira. Sou mineiro e sei o quanto isso desagrada. Por isso a opção do público pelos programas das suas afiliadas, como no caso aqui em Minas tem o Alterosa Esporte (que já foi excelente, informativo e bem humorado, mas que hoje passa da conta no humor). Será que não é possível ir ao Maranhão e descobrir algo engraçado no esporte por lá? E em Porto Alegre? O Brasil é muito grande, histórias boas para serem levadas ao ar existem aos montes. Basta garimpar. Não é preciso abandonar o “eixo”, mas dar espaço e voz aos acontecimentos fora do Rio e São Paulo. Sim, existe vida fora de lá.

Também constitui fato preponderante para um programa como esses vingar o fato de como tratar um pauta bem humorada. Bom humor é bom humor. Bom humor no futebol, para mim, representa uma zoação bom nível, sem piadas pessoais ou apelar para o baixo nível para repercutir. Um bom exemplo que eu vejo na Internet hoje é a equipe do site Olé do Brasil. Eles brincam com vários times, zoam mesmo, e não passam dos limites. Aliás, seria uma boa equipe para redação e apoio ao novo programa do SBT. O “passar dos limites” pode fazer uma determinada torcida a tomar birra do programa (“ah, aquele bando que só não fala mal dos corintianos”) e pode decretar o fim de uma atração. Por isso, o zoar todos deve ser entendido como “todos todos”. Até nisso a imparcialidade é fundamental.

Falando em redação, essa parte é fundamental. Uma redação bem realizada é fundamental para o humor realmente ser engraçado. Muito mais que super estrutura, super contratações ou super cenário. E nas matérias, da mesma forma, a edição faz toda a diferença. Às vezes a pauta da matéria nem é tão interessante, mas a edição bem feita faz você rir. E essa talvez seja a missão principal do “Estádio SBT”. Recentemente, o SBT levou ao ar o “Cassetadas Engraçadas e Desastradas”. O programa era limitadíssimo em sua proposta, mas a equipe tinha boas ideias de edição e pautas, que tornavam o programa mais assistível e até certo ponto engraçado. Talvez seja ali um boa fonte de buscar nomes para integrar a nova atração do SBT.

Enfim, nos resta aguardar por 2014 e ver o que nos reserva o esporte no SBT. Torço muito para que essa área seja retomada na emissora, pois se trata de algo que a emissora tem tradição desde o primeiro ano de sua história, com transmissões de eventos esportivos no Brasil e no mundo. Oxalá que o “Estádio SBT” seja realmente produzido a partir de março e possa ajudar na construção da nova programação de sábados, que passa a contar, já a partir de janeiro, com o seriado Patrulha Salvadora.

Fonte: SBTPédia

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